O Futuro do Rádio Digital


Rádios AM teriam qualidade de FM, e as FM teriam som com qualidade de CD
Algo está para acontecer no mundo da radiodifusão. Assim como a TV, o rádio também deve ganhar um upgrade na forma como é transmitido. Hoje, a transmissão é analógica e dividida em duas faixas: AM e FM, que você conhece bem. Mas muito em breve, o Governo vai disponibilizar um espectro para a transmissão digital das ondas de rádio. O AM vai passar a ter qualidade de FM, e o FM terá um som com qualidade de CD. Nada mal, né? Mas as vantagens da rádio digital vão além.

“Também há a possibilidade de usar subcanais, eu posso ter um canal de transmissão AM ou FM e subdividir esse canal em quatro formatos subcanais que podem me dar a possibilidade de transmissão de conteúdos específicos entre emissoras em rede, ou até coberturas específicas. Por exemplo, uma cidade como São Paulo, a rádio X sai da rede, reutiliza um subcanal para a cobertura de uma grande chuva, de um trânsito muito grande, de um problema focado sem que a rede tenha prejuízo e o público possa ter um canal específico dentro desse canal macro”, explica o professor de Tecnologia de Rádio e TV da FAAP, Álvaro Bufarah.

O rádio digital já deveria estar em funcionamento no Brasil há muito tempo. Mas até hoje, o Governo não definiu que tecnologia vai empregar por aqui. É que existem 4 modelos no mund 2 europeus, um americano e outro japonês, cada um com suas vantagens e desvantagens. E mais: todas essas tecnologias são caras. Imagine uma rádio do interior tendo que investir entre 100 mil e 1 milhão de reais em novos equipamentos e transmissores? Do lado do usuário, existe a necessidade da compra de um novo aparelho, que também é mais caro.

“O único país que, efetivamente, consegue transmitir e efetivar a transmissão digital com boa qualidade, com boa recepção, com um número de de ouvintes que torna viável essa transmissão é a Inglaterra. Os demais países ainda sofrem com a questão do custo, com a questão de implementação de tecnologia. A tecnologia existe, o que não há é o interesse das emissoras em transmitir uma programação diferenciada. Então o ouvinte acaba se ressentindo em comprar um equipamento que custa 200 euros para ouvir a mesma programação que ele ouve num FM convencional. Então do ponto de vista prático ele acaba não migrando”, conta Bufarah.

Em 2012, todos os países europeus terão as freqüências de rádio analógicas extintas, uma vez que este espectro deverá ser utilizado para outros serviços. E mesmo por lá, a dúvida persiste: vale a pena investir tudo isso nessa tecnologia? “Eu acredito que o rádio e a internet tendem a superar essa situação. Porque a cobertura da internet tende a ser cada vez maior, até pelo processo de inclusão digital, as redes sem fios instaladas pelas grandes capitais, e a tendência é cada vez mais ter suportes diferenciados para entregar o aúdio. Ou seja, o cidadão vai poder ouvir rádio pelo celular, pelo sinal de satélite, pelo iPhone, seja lá qual for o equipamento portátil que ele sincronize com a internet e ouvindo todas as emissoras disponíveis ali dentro”, finaliza o professor.
Essa novela ainda tem alguns capítulos pela frente. Conflitos de interesse estão em jogo e há muitas dúvidas se o rádio vai mesmo deixar de ser analógico.

Publicado em 30/08/2011