Alvaro Bufarah Junior
Mestre em Comunicação e Mercado pela Fundação
Cásper Líbero, professor dos cursos de Rádio e TV e Propaganda e
Publicidade da FAAP, e Jornalismo da Uni9.
RESUMO:
As emissoras de rádio brasileiras ainda não se aperceberam das novas
tecnologias de comunicação e de seus impactos na mudança do perfil das
diversas audiências. Com isso, temos novos ouvintes com características
diferentes do perfil baseado na comunicação de massa. Cada vez mais
interessados em participar da produção do conteúdo e da própria mensagem,
este novo ouvinte tende a se alinhar com produtos serviços e empresas que
possibilitem estes recursos de interação. Este é o grande dilema do meio
radiofônico brasileiro para se adaptar às necessidades de um mercado cada
vez mais ágil e segmentado.
PALAVRAS-CHAVE: rádio, tecnologia, negócios, internet, audiência.
1) A digitalização do áudio no rádio
O processo de digitalização de áudio chegou ao rádio brasileiro efetivamente
nos anos 90 com a difusão do CD, do MD e do DAT. Até então, tínhamos o uso
de fitas magnéticas em rolos, cartuchos e cassete. Com o desenvolvimento das
tecnologias digitais passamos a ter uma série de formatos que possibilitaram
não só a gravação, mas a compressão e transmissão de arquivos com
inúmeras variáveis de qualidade.
Este processo se dá com base em três fatores: o primeiro é a profundidade do
bit relacionado à capacidade de informação possível de ser discriminada em
um bit, onde quanto mais dados melhor a referência a ser armazenada. O
segundo é a amostragem que podemos entender como a captação de
momentos específicos da onda sonora armazenando-os em formato digital. E,
por fim, a quantização, que é a representação digital do nível ou intensidade de
um som (FERREIRA & PAIVA, 2008, p.22-23).
Uma vez que a onda sonora foi convertida em um conjunto de códigos binários,
os arquivos podem ser combinados e recombinados facilitando a edição,
transporte e veiculação. Entre as formas de transmissão que vêm se
popularizando baseadas no uso da Internet estão a criação de emissoras
virtuais, canais de áudio segmentados, audioblogs, entre outras aplicações.
Para a transmissão via rede mundial de computadores utilizamos três formas
básicas. O streaming, em que a fonte sonora envia os pacotes de dados
simultaneamente à produção/veiculação, ou seja, ao vivo. O on demand (sob
demanda), onde o arquivo fica disponível na rede e o usuário acessa quantas
vezes precisar, e, por último, o podcast, que embora seja gravado e esteja à
disposição na web, o usuário não precisa fazer uma busca, pois há um sistema
que utiliza tecnologia RSS (Really Simple Syndication) que utiliza feeds
(etiquetas) contendo informações sobre título, endereço, descrição de
alterações, autor, entre outras. Este sistema permite que o usuário receba seus
arquivos preferidos assim que forem atualizados. Além disso, o arquivo de
áudio é baixado para a máquina do assinante possibilitando a audição e
transporte a qualquer momento.
Outro fator diferencial nesse contexto são os vários formatos de arquivos de
áudio que podem ser utilizados nas emissões via web. Os mais conhecidos são
o MP3, o Windows Media Audio (WMA), o Real Audio (RM) e o Advanced
Audio Coding (AAC).
Com a digitalização do áudio, os conteúdos passaram a ser disponibilizados
em suportes diferentes facilitando o acesso e portabilidade dos arquivos e até
das transmissões ao vivo de eventos.
2) Os novos suportes de transmissão de áudio
A tecnologia de aparelhos celulares foi desenvolvida anos 80, sendo
implantada inicialmente na Escandinávia e depois nos Estados Unidos. O
grande número de sistemas e a incompatibilidade entre eles foi superada em
alguns anos possibilitando a expansão exponencial do uso. No caso brasileiro,
a expectativa é de que até 2015 o país supere a marca de 200 milhões de
celulares, cifra acima do número de habitantes. Além disso, já se especula a
viabilidade do padrão LTE (Long Term Evolution), os chamados Serviços de
Evolução de Longo Prazo, com velocidade que já atingem 300 megabits por
segundo. A implantação desse sistema em larga escala permitirá, em tese, a
transmissão de até 18 programas de TV em alta definição (SIQUEIRA: 2008,p.
61-65).
Com todos estes avanços, o celular ganhou mais espaço como uma ferramenta
de acesso a Internet, transmissão de dados, captura e armazenamento de
áudio e vídeo, além de um potente receptor móvel de conteúdos digitais.
No caso brasileiro, o desenvolvimento do sistema de telefonia celular já permite
que os ouvintes naveguem nos sites das emissoras de rádio, ouçam
programações e também utilizem seus equipamentos como players portáteis
para o armazenamento de programas e músicas.
Um dos pontos altos desse sistema é a mobilidade que possibilita ao usuário
acompanhar a programação das emissoras com muito mais facilidade. Este
também é o ponto alto da plataforma de transmissão de rádio via satélite
disponível em alguns países do hemisfério norte.
O Serviço de Rádio Digital (DARS),baseado em satélites de baixa órbita
posicionados em torno do globo terrestre, opera em banda “S” (de 2,3GHz)
sendo que as duas empresas que disputavam este mercado nos Estados
Unidos estão em fase de fusão. A Sirius (anteriormente conhecida como Rádio
CD) e a XM (no passado, denominada Rádio Móvel Americano) disponibilizam
aos usuários mais de 120 canais de áudio por um custo médio em torno de
US$ 13 por mês mais um investimento de US$ 100 no equipamento. A
vantagem dessa plataforma é que o ouvinte pode se locomover por grandes
distâncias acompanhando sua emissora preferida, ou ainda, acompanhar
canais segmentados como a liga de baseball norte-americana
(WATSON,2007).
A outra empresa a explorar esse tipo de serviço é a WorldSpace, que atua na
Europa, parte da Ásia, África e também no Oriente Médio. As três empresas
utilizam serviços de compactação do áudio, o que prejudica um pouco a
qualidade, mas em áreas urbanas, elas usam repetidoras terrestres para evitar
interferências.
Ainda não há uma previsão de instalação desse sistema para cobertura no
hemisfério sul, mas no caso brasileiro, as operadoras de TV por assinatura
também distribuem em seus pacotes de conteúdos sinais de rádio e canais de
áudio. A NET digital oferece em torno de 43 canais de áudio e quatro
emissoras de rádio e a Sky, agora resultado da fusão com a Directv,
disponibiliza mais de 30 canais de áudio e mais 13 emissoras de rádio.
Ao analisamos os novos suportes para a transmissão de áudio, não podemos
deixar de lado os avanços trazidos ao rádio pelas tecnologias da Internet.
Nesse contexto, percebemos que houve uma potencialização de ambos nessa
fusão onde a rádio ganha o suporte multimídia e a Internet o imediatismo do
veículo de massa.
Devemos somar a este ambiente uma nova ferramenta derivada da Internet: os
players portáteis que revolucionaram a forma de ouvir música causando um
grande impacto na indústria do entretenimento mundial e também nas
emissoras de rádio, pois agora um jovem pode selecionar músicas em seu PC,
acondicioná-las no seu tocador e “montar” a sua programação musical. Alguns
podem dizer que isso já era uma tarefa realizável com fitas K7 e os walkmans,
porém nunca foi tão fácil baixar, armazenar e reproduzir músicas como nesse
momento histórico. Considero os players prolongamentos tecnológicos dos
walkmans, portanto, aplico a eles o mesmo conceito de CASTELLS em que
estes aparelhos transformaram a seleção de músicas em um ambiente de
áudio portátil facilitando um isolamento, mesmo que momentâneo, do mundo a
nossa volta (2007, p.422).
O contraponto deste isolamento está na aproximação do indivíduo à
comunidades formadas por pessoas com interesses comuns, sejam fãs clubes,
sites de relacionamento, blogs, sites de seriados ou até de discussão política.
Este processo vem de encontro à segmentação das programações das
emissoras de rádio, tendo na Internet um campo fértil para isso.
Embora já tenha citado o formato de podcast nesse texto, preciso fazê-lo
novamente indicando que é uma importante ferramenta para que as emissoras
de rádio possam fidelizar seus ouvintes, já que podemos defini-lo como um
programa de rádio personalizado produzido e veiculado de forma livre
utilizando o formato MP3 de compressão e recursos RSS para a indexação e
busca (MEDEIROS,2006, p.3).
Dentro do espectro do uso da internet para transmissão de emissoras e de
conteúdos radiofônicos, registro ainda uma facilidade tecnológica que vem ao
encontro das vantagens competitivas necessárias ao desenvolvimento das
emissoras na web que é o uso de receptores de rádios para Internet que não
necessitam de um computador para serem conectados à rede. Os aparelhos
têm uma antena e um sistema de busca que automaticamente faz um scaning
das redes de wireles disponíveis. Na impossibilidade de utilizar a rede sem fio,
o usuário pode apenas conectar o “rádio” a uma rede física e configurá-lo como
se fosse um periférico.
Este processo tornou-se uma opção interessante ao uso dos equipamentos e
ao custo para a implantação dos formatos de rádio digital. Embora tenhamos
sistemas em operação em nível global, nenhum deles conseguiu desenvolver
uma plataforma de negócios viável. Nos Estados Unidos, o IBOC não foi bem
aceito pelas emissoras nem pelos ouvintes em função de custos. Na Europa,
os formatos DAB e DRM também não se tornaram um padrão de mercado
atraente, sendo que apenas na Inglaterra o rádio digital está implantado e
operante em escala profissional. No caso do sistema japonês, ISDB, a relação
estreita com as demais mídias é que torna o rádio digital uma opção mais
atraente, mas mesmo assim, a necessidade de troca dos transmissores e dos
receptores torna o sistema muito caro para ser implementado em outros
países.
No caso brasileiro, há uma tendência para que o governo aceite as pressões
do mercado e instale o sistema Iboc em função da possibilidade de
transmissão simultânea de programações analógicas e digitais. Isso tornaria
mais simples o processo de transição. Mas ainda há uma série de questões
políticas, econômicas, sociais e técnicas que ainda não foram resolvidas, o que
na base trava o desenvolvimento desse sistema no país.
3) Novos suportes de armazenamento
Com o desenvolvimento da tecnologia digital e a produção exponencial de
conteúdos, os arquivos precisam de mais e mais de espaço para serem
armazenados. Por outro lado, é constante o processo de compactação de
dados possibilitando que cada vez mais informações sejam comprimidas em
menos tempo e área. Este conceito causa uma corrida por melhores condições
de áudio em equipamentos de gravação e reprodução. Tanto que em 1999, as
empresas Sony e Philips lançaram o SACD, ou superáudio cd, onde se utiliza
uma nova tecnologia de gravação denominada DSD (direct stream digital). Este
sistema utiliza um disco híbrido que possibilita gravamos uma amostragem de
mais de 2,822 milhões de amostras por segundo, contra as 44.110 de um cd
convencional, ou seja, uma superioridade 60 vezes maior (SIQUEIRA, 2008,p.
17-18).
Outro exemplo dos avanços do processo de armazenamento é a tecnologia do
Blu-ray Disc. Esta nova mídia é o resultado de estudos realizados pela
associação que leva o mesmo nome. Nela estão empresas de grande porte do
mercado internacional como a Philips, Sony, Sansung, Panasonic, Pioner,
Sharp, Apple, Dell, Hitachi, HP, JVC, LG Mitsubishi, TDK e Thomson. O disco
tem capacidade para armazenar 50 gigabytes em duas camadas. O que
equivale a pouco mais de 10 vezes o espaço de um DVD convencional
(SIQUEIRA,2008,p:55-56). Em uma matéria publicada na Revista Info Exame
no mês de maio de 2009, o jornalista Leonardo Martins indica que já há
estudos para que até 2012 tenhamos unidades de Blu-ray com 500 GB e
tecnicamente já se trabalha com a possibilidade de discos com 1 terabyte,
ainda sem perspectiva de lançamento.
A base para este desenvolvimento é uma tecnologia de gravação holográfica
que armazena dados em várias camadas criando uma imagem tridimensional
dos arquivos. Tanto o processo de leitura como de gravação são feitos por dois
feixes de laser possibilitando um cruzamento de sinais ópticos que são
registrados em uma superfície fotossensível (MARTINS, 2009,p.37).
Estas duas novas tecnologias, embora de alto custo, nos indicam as
possibilidades de armazenamento de conteúdos radiofônicos. Com isso,
teremos um novo salto na produção, compactação, transmissão e
arquivamento de dados dentro das emissoras de rádio. Embora estas
tecnologias tenham sido pensadas para o armazenamento de conteúdos de
áudio e vídeo de alta resolução, acredito que teremos disponibilidade de uso no
mercado de rádio brasileiro. Lembro que por ser uma tecnologia nova e cara as
empresas brasileiras do setor ainda não se arriscaram a tentar seu uso.
4) Rádio e adequação com a Internet
Uma pesquisa qualitativa realizada pelo Instituto Ipsos Marplan em parceria
com o Grupo de Profissionais de Rádio de São Paulo, no ano de 2008, com os
criativos das agencias de publicidades teve como foco explorar o rádio com o
objetivo de levantar as principais características do meio e suas perspectivas
futuras junto ao mercado publicitário considerando o contexto de transformação
das mídias e seus consumidores. O estudo foi realizado com três fontes:
workshop de inovação com profissionais da área de criação, produção e
levantamento de dados secundários mais o uso da expertise do instituto.
Segundo Cinthia D’AURIA, diretora de atendimento da área de pesquisa
customizada de mídia, conteúdo e tecnologia, Ipsos Marplan Media CT indica
que o momento é de mudanças e transformações causadas pela popularização
da Internet, pela revolução dos meios digitais, a convergência de mídias, o uso
de diversas plataformas de transmissão, (MP3, celulares,etc) entre outros
elementos(2008).
O resultado reafirma algumas das características mais marcantes do meio
rádio, tais como:
a) Sentido da audição: a necessidade de valorizar o ato de ouvir, compreender
e assimilar os dados apresentados;
b) Imaginação: utilizar com maior freqüência os estímulos sonoros para criar
“imagens” mentais para o ouvinte;
c) Multidimensional: o rádio mantém mobilidade, fluidez e liberdade para que o
ouvinte decida o que escutar dentro do leque de conteúdos apresentados.
d) Proximidade do ouvinte: é a característica de linguagem que permite uma
aproximação direta da narrativa radiofônica do universo imaginário e pessoal
do ouvinte, sendo útil e fiel na sua participação diária;
e) Retencidade: o veículo mantém a atenção do ouvinte chegando a ter um tom
coloquial e amigo tornando o diálogo de massa uma comunicação única entre o
apresentador e o ouvinte.
f) Grande alcance: a característica que garante a cobertura de qualquer raça,
cor formação, idade, classe social estilo, religião,etc;
g) Segmentação: é o veículo que garante para a cada perfil de ouvintes uma
emissora. Para cada programação um público, para cada horário, uma
preferência. Para cada preferência, um programa. Por isso, para cada
radialista, uma voz e para cada voz, um ouvinte.
D’AURIA (2008) explica que pelos dados levantados na pesquisa, os maiores
desafios da mídia rádio, na opinião dos profissionais do meio, são:
a) Reconhecer e valorizar as características do meio rádio no processo de
planejamento de mídia, buscando dar mais visibilidade ao setor e as suas
ferramentas;
b) Repensar o papel do rádio enquanto mídia principal e não de apoio. Com
isso, teremos de repensar as programações para não servir apenas com um
“som ambiente”, mas sim, a mídia foco da atenção do ouvinte.
c) Estar atento às novidades tecnológicas do meio e capitalizá-las com
criatividade, visando aproveitar ao máximo do ponto de vista de negócios as
tendências adaptando a linguagem a cada público.
Além disso, para os criativos que participaram das dinâmicas da pesquisa, o
rádio como veículo ainda tem algumas barreiras para serem superadas dentro
do campo da publicidade. Entre elas, as principais são a necessidade dos
anunciantes e das agências de propaganda pensarem o meio não como uma
ferramenta de som ambiente, mas sim, como o canal principal de comunicação,
e também a valorização dos recursos auditivos na produção de programas e de
peças publicitárias.
Se o meio conseguir avançar se integrando às novas tecnologias, poderemos
ter um cenário que indica perspectivas muito positivas para o setor. Como
indicam os dados levantados pelo Instituto Marplan, que permitem diferenciar o
produto sonoro radiofônico através de peças publicitárias mais criativas com o
objetivo de surpreender o consumidor, além de facilitar que o meio assuma um
espaço de interação maior com o ouvinte possibilitando uma maior
segmentação dos perfis das emissoras levando a um contato mais próximo das
comunidades e dos anunciantes principalmente através da Internet e suas
ferramentas.
Entre os dados coletados na pesquisa o que mais chama a atenção é a
perspectiva dos profissionais de criação de que o rádio será o meio que melhor
adere às características multimídia da rede mundial de computadores.
Possibilitando a entrega de conteúdos em formatos múltiplos e um alargamento
das chances de investimento publicitário no meio.
O material levado ao ouvinte através de vários suportes (AM, FM, celulares,
MP3/ 4 e 5, players, internet, internet móvel, games on line, etc) também
poderão ser acessados em formato on demand, podcast, programas de
compartilhamento de músicas, comunidades de rádios levando a criação de
ouvinte-produtores de conteúdo interagindo diretamente com a emissora e com
outros ouvintes. Com isso, o modelo de negócios estabelecido no mercado de
radiodifusão brasileiro e mundial terá de ser repensado e alterado para atender
às novas demandas desse ouvinte-usuário (D´AUDRIA,2008).
5) WEB 2.0 – a participação do usuário
Ao se discutir a interação dos usuários com os meios de comunicação,
raramente nos lembramos que o rádio sempre foi um dos veículos mais abertos
à participação dos ouvintes dentro de sua programação. Seja nos programas
de auditório ou por carta, telefone e, mais recentemente, por email, as pessoas
de forma geral, aproveitam estes canais para interagirem de alguma forma com
a programação das emissoras. Mas talvez em nenhum momento da história
dos veículos de comunicação de massa tivemos tantas ferramentas disponíveis
para esta interação.
O principal conceito que revolucionou as relações humanas com os meios de
comunicação está baseada na internet e atualmente é chamada WEB 2.0 (lê-
se web dois ponto zero). Para Alan Meckler, CEO do portal Internet.com, ligado
a Jupitermidia, este novo formato para a rede é apenas a evolução continuada
de se obter informações, dados e agora entretenimento possibilitando as
empresas passar este material aos seus clientes de forma barata
(JONES,2009,p.29).
Mas, na base desse processo, está a maior interação dos internautas com os
conteúdos disponíveis na rede. Seja com a participação direta deles na
produção do material, ou na escolha e personalização de dados que querem
ter acesso de forma rápida e objetiva. Dessa forma, cada vez mais pessoas se
agregam a outras em processos virtuais que desconhecem as barreiras
geográficas e físicas. Como explica Dorion Carroll do serviço de blogs
Technorati, que afirma que uma pessoa pode se comunicar com um público em
massa, mas jamais encontrará a maioria dessas pessoas. O motivo para isso é
que todas estas pessoas estão se conectando às chamadas redes sociais,
estruturas virtuais que possibilitam a criação de álbuns de fotos, links de
vídeos, trocas de mensagens em tempo real, uso de blogs e etc. Há sites como
o Faceboock que servem de entroncamento desses serviços permitindo que os
usuários utilizem todas estas ferramentas de uma só vez e ainda comentem os
conteúdos postados pelos seus amigos pertencentes as suas comunidades ou
grupos. Como indica Carroll, não é mais a internet de mão única
(JONES,2009,p.64-65).
Estas redes crescem de forma exponencial e dão oportunidade a pessoas que
não se conhecem e que nunca se viram de se ligarem virtualmente através de
um interesse comum. Com isso, passamos a ter a quebra do conceito de mídia
de massa, onde temos um emissor para uma audiência gigantesca. A
tendência é de termos cada vez mais o contato de um emissor que também é
receptor para um nicho ou com vários nichos de seu interesse.
Segundo um estudo da Nielsen Online, de cada 4 minutos dedicados à internet
o brasileiro fica 1 acessando mídias sociais. O Orkut, por exemplo, é utilizado
por 71% dos internautas do país, sendo que esta multidão escreve 80 milhões
de recados e adiciona 30 milhões de fotos todos os dias (MORAES,2009,p.67).
Para Gina Bianchini, uma das criadoras do site NING.com, iremos presenciar
um aumento incrível do número de redes sociais para cada nicho, necessidade,
interesse e local concebíveis (JONES,2009,p.58).
6) Impacto das novas tecnologias na produção de conteúdo das
emissoras de rádio brasileiras
As emissoras de rádio no Brasil, em geral, criaram sites e tentam estabelecer
algum contato com seus ouvintes. Uma situação comum é a mera
disponibilização do áudio da emissora na internet. Algumas empresas colocam
também ferramentas como blogs e acesso à arquivos de programas ou
entrevistas. Mas, de forma geral, estão longe de utilizar todos os recursos
disponíveis na web para favorecer a interação com o ouvinte. Entre os serviços
que acredito serem úteis estão:
Chat: esta ferramenta serve muito bem para os programas ao vivo e suas
possibilidades de interação com ouvintes em qualquer parte do planeta. O
ponto alto está na participação direta do usuário dando suas opiniões e se
expondo diante de outros cidadãos. Porém, é obrigatória a checagem da
produção para o acompanhamento dos debates e veiculação dos assuntos
pertinentes ao programa. Sem mediação temos um amontoado de opiniões
dispersas ou a falta de interesse dos ouvintes que querem interagir com o
apresentador da emissora. É o que explica RIBEIRO e MEDITSCH tendo como
exemplo a Rádio CBN de Florianópolis:
O chat da CBN/Diário é uma ferramenta disponível ao internauta do
portal ClicRbs (www.clicrbs.com.br) desde que o site foi criado.
Originalmente, a sala virtual de bate-papo foi oferecida apenas como
mais um recurso de interatividade do portal, mas logo os usuários
perceberam o potencial de participação e interferência na
programação da rádio que a ferramenta poderia oferecer. Hoje, o chat
permanece disponível 24 horas por dia, mas a sala praticamente só é
visitada nos horários de programação local e o pico se apresenta
justamente durante a transmissão do Notícias da Manhã, quando a
interatividade entre o âncora do programa e os freqüentadores da
sala é maior (2006,p.6).
A Rádio Globo de São Paulo utiliza de forma prática o chat durante as
transmissões de jogos de futebol, onde os apresentadores pedem a
participação dos ouvintes e depois lêem no ar as inquietações relatadas no
chat.
Email: uma das formas mais "antigas" de acesso dos usuários aos
profissionais das emissoras. Porém ainda, muito mal utilizado. É comum o
envio de emails para as emissoras que ficam sem resposta ou o recebimento
de uma mensagem automática sem a interação desejada pelos ouvintes.
Lembrando que na disputa pela audiência segmentada um email perdido pode
ser um ouvinte perdido... Praticamente todas as emissoras de rádio brasileiras
têm em seus sites um espaço para o envio de email pelos interessados. Mas
poucas utilizam esta ferramenta de forma a valorizar a participação dos
usuários. Um exemplo importante dessa utilização é feito pela Rádio CBN de
São Paulo que recebe diariamente mais de mil mensagens para seus
programas locais e nacionais.
Blogs: muitas emissoras estão criando blogs em seus sites (CBN,
Bandeirantes, Band News, Jovem Pan), porém o conteúdo desses produtos é
fragmentado e sem sentido diante do perfil da audiência. Muitas vezes o blog é
o espaço do apresentador ou de outros personagens expressarem suas
opiniões que necessariamente não são as mesmas das emissoras. Isso causa
um descompasso diante da linha editorial da empresa ou gera uma limitação
que impede que os profissionais exponham suas vivências de forma mais clara,
afastando o usuário da realidade. Um exemplo disso é o blog da rádio Nova
Brasil FM cuja atualização passa por um filtro da chefia antes da publicação
semanal.
A adequação da linguagem, do conteúdo e a periodicidade devem atender
fielmente o interesse do seu público alvo. Importante lembrar que o blog dentro
do site da emissora é uma ferramenta de comunicação coorporativa e,
portanto, deve ser visto como um prolongamento da rádio e não apenas um
espaço para opiniões pessoais. TERRA define blog como um instrumento de
comunicação opinativa da empresa e deve seguir a mesma linha dos demais
veículos coorporativos utilizados (2008,p.21).
News Letter: acredito que ainda seja uma boa ferramenta, mas só vale para
públicos mais qualificados e se os conteúdos disponibilizados forem
diferenciados e únicos. Muitas empresas copiam material de outros sites e
enviam para os usuários. Com isso, torna-se a comunicação repetitiva. A rede
da Rádio Clube de Portugal (que atualmente conta com 14 emissoras)
disponibiliza para seus ouvintes uma newsletter onde informa no ato da
assinatura que semanalmente os leitores receberão por correio eletrônico uma
antecipação das informações mais relevantes da emissora. Com isso, aproveita
para fidelizar seus ouvintes e enriquecer seu banco de dados, pois os usuários
que aceitam ou uso desta ferramenta concedem importantes de informações
para a área comercial.
SMS: (Short Message Service) é uma possibilidade interessante de
comunicação móvel com o ouvinte tanto para o envio de informações da
emissora quanto para o recebimento de dados dos usuários. Já temos várias
discussões sobre um novo sistema MMS (Multimedia Messaging Service) onde
o usuário poderá utilizar mensagens ilimitadas com suporte de áudio, vídeo,
textos e imagens. Para as emissoras brasileiras, pode significar uma
ferramenta de negócios potente se configurada em parceria com as operadoras
de telefonia. Por enquanto tem o uso limitado pelo número de caracteres e pelo
custo do envio que varia de acordo com a operadora. Mas emissoras com perfil
de prestação de serviços como a Sulamérica Trânsito de São Paulo e a Band
News, ambas do Grupo Bandeirantes, aproveitam esta ferramenta para que os
ouvintes passem informações sobre o trânsito na maior capital brasileira. Com
isso, gera uma aproximação e um canal de participação direta para os usuários
onde a rádio serve de mediadora entre os cidadãos.
Facebook : onde os usuários contam com uma gama maior de ferramentas de
interação, incluindo jogos on line e um mini blog. Já nesse espaço podemos
encontrar emissoras internacionais como a BBC Radio 1 que têm mais de
93.600 fãs que acomapanham a programação e participam ativamente
postando opiniões e seguindo os membros da comunidade.
Second Life: é um ambiente virtual que simula a vida real. Embora seja uma
ferramenta pouco utilizada pelas emissoras de rádio, vale uma atenção
especial, pois as empresas de comunicação podem criar uma estrutura idêntica
a real para possibilitar uma apresentação da rádio, seus funcionários, estrutura
e programação em um formato tridimensional para que os usuários possam
visitar no momento em que quiserem sem ter de sair de casa. É como faz a
Rádio Energia 97, da capital paulista, que anuncia em seu site que os ouvintes
podem visitar a emissora dentro desse espaço virtual durante o programa
Estádio 97 (um dos carros chefes da programação) podendo ouvir a emissora
enquanto conversa com outros ouvintes, via texto ou voz.
YouTube: é um site que permite aos usuários disponibilizarem e
compartilharem vídeos das mais diferentes origens. Quando feita uma pesquisa
sobre conteúdos definidos com o titulo de emissoras de rádio temos em torno
de 689, mas desses links poucos são efetivamente de empresas de
radiodifusão. A maioria são pessoas ligadas ao meio que disponibilizam vídeos
e áudios com curiosidades e entrevistas. No caso das emissoras brasileiras,
esta pode ser uma ferramenta importante para dar visibilidade às ações
promocionais, entrevistas, festas e outros conteúdos. Além de servir de vitrine
para a veiculação de vídeos feitos pela equipe da emissora.
Twiter: um mini blog onde o usuário posta um pequeno texto de até 140
palavras. Embora pareça pouco espaço, este serviço está se tornando uma das
ferramentas mais utilizadas pelos internautas brasileiros, pois permite links,
comentários e outras ações tendo o imediatismo como maior apelo. Também
algumas emissoras de rádio no Brasil estão fazendo uso desta ferramenta, mas
de forma um pouco desorganizada, pois não faz parte de uma estratégia
corporativa, mas sim, do interesse de alguns profissionais. É o como no caso
do Jornal da CBN (SP) que utiliza este recurso para colher as opiniões dos
ouvintes sobre temas polêmicos abordados na programação. Mas este
processo serve como um ensaio, pois nem todos os programas da emissora
contam com esta ferramenta.
Gengibre: este é um serviço onde o usuário se inscreve e passa a postar
áudios sobre seu dia-a-dia, como se fosse o Twiter, só que o internauta utiliza o
celular para fazer seus comentários ligando para um número específico e
pagando o custo de uma ligação comum. No caso de emissoras de rádio, é
possível utilizar este recurso para a veiculação de sonoras de personalidades,
disponibilização de conteúdos feitos diretamente pelos repórteres ou ouvintes
para o site com serviços (trânsito, aeroportos,etc), matérias especiais,
entrevistas, entre outros conteúdos. Um serviço semelhante é utilizado pela
Rádio Sulamérica Trânsito de São Paulo onde os ouvintes ligam para um
determinado número (pagando pela ligação) para deixar mensagens de voz
sobre como está o fluxo do trânsito nas diversas áreas da cidade. Nesse caso,
o serviço faz parte de um sistema operacional mais complexo do Grupo
Bandeirantes, porém, em emissoras com menos recursos, o site do Gengibre
pode ser uma saída viável com baixo custo.
Estas são apenas algumas das possibilidades de uso das ferramentas
disponíveis no mercado brasileiro. O ideal seria a utilização conjugada de
vários serviços para a que a emissora seja um agregador de conteúdo e
entretenimento aos usuários da internet, propondo discussões, facilitando o
contato entre pessoas e se valendo da plataforma multimídia para estabelecer
novas formas de acesso com seus ouvintes.
7) Conclusão
Acredito que as possibilidades de uso da internet sejam complementares às
características do meio rádio. Dessa forma, avalio positivamente a utilização
das ferramentas e conteúdos dos dois meios na formulação de um novo
conceito de "rádio".
Não copiado de outros mercados, mas sim, um formato para cada emissora e
para cada nicho de mercado disponível no país, ou até fora dele, dado as
possibilidades de acesso em todo o planeta.
Insisto em lembrar que vivemos em uma fase de mudanças no perfil das
audiências dos veículos de comunicação. Estamos diante da segmentação de
mercados em públicos que se reunirão em torno de produtos e serviços que
estejam alinhados com suas ideologias de vida, gostos e necessidades. Por
isso, o engajamento nas redes sociais com questões ambientais, culturais e
políticas passa a ter um peso diferenciado no dia-a-dia das emissoras.
É preciso ter uma nova forma de gestão para este novo conceito de rádio que
surge da interação com a rede mundial de computadores. Além disso, não
temos profissionais capacitados a utilizarem todas estas ferramentas de forma
horizontal na relação com os ouvintes. Por isso, é urgente a necessidade de
buscarmos formar novos profissionais com uma cultura maior sobre os
produtos e serviços possíveis nessas redes. Fundamentalmente, o rádio está
mudando e as emissoras brasileiras precisam se adequar à esta nova
realidade, pois caso contrário, a médio e longo prazo, as possibilidades de
negócios tendem a ser cada vez mais rarefeitas até o total estrangulamento do
formato balizado pela era analógica.
8) Referências bibliográficas
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Paz e Terra S/A, 2007
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