Globo Repórter realiza Matéria sobre Locutor
















 Locutor ganha vida com a voz: ‘Digo que respiro microfone’




Dulcinéia NovaesCampo Largo, PR
Na loja de departamentos, o vozeirão ecoa por todo o ambiente. “Todo o setor de tapetes em dez vezes sem entrada e sem juros”, anuncia a voz.
“Acabei de gastar por causa disso. Comprei um tapete por causa da voz”, revela uma consumidora.
O locutor Paulo Moreira é o dono da voz. Ele era metalúrgico. Ficou desempregado e resolveu apostar no talento vocal. “Um dia eu estava passando em um mercado e vi um locutor anunciando, e achei interessante. Fiz um teste e comecei a trabalhar de locutor. Não parei mais”, conta Paulo.
São R$ 75 por seis horas de gogó. Lá vai ele, o rei da simpatia, com recadinhos da gerência. “Pedimos também a gentileza de não abrir as embalagens no interior da loja”, anuncia.
E uma mãozinha para os clientes: "Cliente Adriana, seu filho lhe aguarda próximo ao corredor central."
Paulo mora em um bairro da periferia de Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba. É o caçula de oito irmãos. A voz de trovão enche de orgulho Maria José Nascimento, a mãe do locutor.
“É um dom de Deus, e ele vai em frente. Eu fico muito feliz e orgulhosa com isso”, diz.
No computador emprestado de uma sobrinha, Paulo grava anúncios para comerciantes da região. Depois, roda o bairro, dirigindo o próprio carro com um sistema de som adaptado. Para os moradores, Paulo é o serviço de utilidade pública e anuncia de tudo, desde o desaparecimento de um cãozinho até missa de sétimo dia. Os anúncios nem sempre saem como o esperado.
“O cachorro era da raça pinscher e o dono do cachorro pediu que anunciasse cachorro da raça pit. Todo mundo pensou que era pitbull. E era um cachorrinho bem pequenininho e inofensivo”, se diverte Paulo.
É com esses anúncios que ele paga as prestações do carro usado que está prestes a quitar. O sonho dele é trabalhar em rádio. “Costumo dizer que respiro microfone.”